«Um dia [...] levantar-nos-emos duma ponta à outra do país e faremos a assembleia geral dos governadores do orvalho, o grande coumbite dos trabalhadores da terra para arrotear a miséria e plantar a vida nova.» É assim, cheio de esperança, que Manuel Jean-Joseph, um jovem haitiano de regresso à sua terra quinze anos depois de ter ido trabalhar para Cuba, explica a Laurélien como se deveria acabar com a miséria que assolava a região: se são os trabalhadores que tudo produzem, será com base na sua união que se construirá o futuro. Mesmo implicando isso ultrapassar velhas divisões familiares, no amor, no trabalho e na luta. Governadores do Orvalho é um dos maiores clássicos da literatura haitiana, objecto de estudos e de adaptações diversas e traduzido em várias línguas por todo o mundo. Jacques Roumain, que não chegou a ver o livro publicado pois terminou a obra pouco tempo antes da sua morte, em 1944, desenvolveu ao longo da sua vida uma intensa actividade política e intelectual. O autor foi um participante activo na resistência à ocupação norte-americana do Haiti, foi preso diversas vezes por motivos políticos e fundou, em 1934, o Partido Comunista do Haiti. Desenvolveu uma intensa actividade de promoção da identidade nacional haitiana, a que se juntam as suas obras literárias e trabalho político (tendo sido igualmente diplomanta no México) um vasto trabalho científico nas áreas da Etnologia, Antropologia, Arqueologia e Paleontologia. O segundo número da Biblioteca Avante! é assim um belo romance de luta, dignidade, ternura e confiança no futuro, trazido aqui numa tradução de José Saramago.